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Lançamento do livro do Papa Francisco em Roma

Após receber uma carta de Luyara de 19 anos, filha de Marielle Franco, assassinada na última semana no Rio de Janeiro, o Papa Francisco ligou para prestar solidariedade à família da vereadora. Essa é uma das atitudes que demonstram a preocupação do pontífice em dar voz e reivindicar a centralidade aos jovens. No livro Deus é jovem – uma conversa com Thomas Leoncini, lançado em seis idiomas e publicado no Brasil pela Editora Planeta, o Papa Franciscoapresenta reflexões sobre diversos temas, como juventude, sonhos, fé, sociedade, consumo e poder e indica os jovens como os grandes protagonistas da história.

Em cerimônia realizada ontem (23) em Roma, que contou com a presença, entre outras, do co-autor do livro, Thomas Leoncini, do Secretário Geral Conferência Episcopal Italiana, Mons. Nunzio Galantino, e de Giancarlo Penza, responsável pelo projeto “Long Live Elderly” na comunidade de St. Egidio, os convidados debateram o tema central do livro: as jovens gerações, vistas como as grandes descartadas de nosso tempo inquieto, e que são segundo o papa o reflexo da natureza de Deus.

Nos trechos de Deus é jovem lidos pelos participantes, Francisco defende que os jovens são fortes graças a sua singularidade, suas diferenças e sua aparente fraqueza. “Suas palavras nos ajudam a entender como a idade não tem importância para compreender os corações dos jovens. Papa Francisco, com esse livro, nos acorda continuamente”, declarou Mons. Nunzio Galantino, Secretário Geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), que não poupou a própria Igreja Católica:  “a instituição também tem sua responsabilidade, não consegue transmitir aos jovens uma religião fascinante. Eu não entendo por que a igreja deve ser uma coisa mortalmente entendiante. E isso infelizmente acontece por causa dos recentes episódios negativos de alguns que ocupam os jornais recentes.”

Galantino ainda discursou sobre a linguagem usada pelo pontífice na obra. “Uma linguagem totalmente distante daquela dos documentos oficiais. Ele não se preocupa em seguir uma doutrina perfeita e usa um estilo de conversa simples, mas ao mesmo tempo profunda e surpreendente. Ele quer que os assuntos abordados nos pertençam, nos movam, nos abalem”. O Secretário Geral da CEI também falou sobre a profunda conexão entre os jovens e os idosos defendida no livro. “A primeira parte do livro fala de jovens profetas e os antigos sonhadores e imagina a vida como um diálogo contínuo e frutífero entre gerações”, disse.

No livro, papa contorna a geração dos pais e foca naquela dos avós e netos: ‘Seus anciãos terão sonhos, seus jovens terão visões’, escreve, citando o livro de Joel. Segundo Francisco, a sociedade moderna decretou duas categorias de descartáveis: os velhos e os jovens. “Devemos lembrar os adultos que existem crianças e que há avós que merecem atenção, que merecem ser visitados e não deixados a sós. Se vocês quiserem alcançar os jovens, façam isso enquanto caminham, enquanto eles correm. E os jovens vão entender. Se você quiser compreendê-los, ande com eles, eles vão ouvir. E desse diálogo vai nascer algo frutífero”, explicou Galantino.

O papel dos adultos e educadores

No livro, o papa comenta os excessos dos pais. “Os adultos querem falar como mestres dos jovens de qualquer maneira. Eles querem ser sempre os professores dos jovens. Não é uma reivindicação apropriada, especialmente desde quando tem essa reivindicação sem antes apresentar uma premissa interior. Os adultos deveriam confessar abertamente a responsabilidade de ter deixado às novas gerações um mundo não digno de suas esperanças e expectativas. As esperanças e expectativas  que os jovens merecem. E, ao contrario, ter deixado um mundo de consumismo, de busca obsessiva pelo poder “, disse Galantino. O papa também discorre sobre a arte de governar a si mesmo e governar os outros. “Governar é servir cada um de nós, cada um dos irmãos que compõem o povo. Não se deve governar para brincar de Deus, precisamos olhar para baixo para ajudar os outros, para levantar alguém”, disse Galantino, enquanto lia trechos do livro.

“Bons educadores fazem a si mesmos essa pergunta todos os dias: tenho hoje o coração aberto o suficiente para que a surpresa possa entrar? Educar não significa apenas explicar teorias, mas também dialogar para trazer o pensamento para o coração próprio e dos outros”, disse o Secretário Geral da CEI, que destacou a experiência do papa como professor e diz que “os jovens não gostam de se sentir comandados. Eles buscam uma autonomia cúmplice que os faz sentir que estão no comando de si mesmos.”

Francisco também fala da responsabilidade dos jovens de olhar uns para os outros como se fossem uma grande família. “Aqueles poucos que encontram seu caminho devem se sentir responsáveis ​​por lançar uma mensagem e ser inspiradores para os outros”, disse Galantino, que falou da preocupação do papa de que o  Sínodo deve estar a serviço dos jovens, crentes e mesmo dos não crentes.

“O Sínodo não é um simples ato de atenção para os jovens. É uma oportunidade para a Igreja ouvir os jovens. Ser infectada por suas profecias, por sua paixão, por sua capacidade de ousar, por transformar os limites inevitáveis ​​que existem e torná-los oportunidades. E isso só pode ser ensinado por jovens. Com esse pouco de inconsciência que faz parte de suas vidas. A igreja deve fazer isso”, declarou Galantino.

Defesa da liberdade de expressão

Constantemente, o Papa Francisco encoraja jovens do mundo todo a “falar francamente e com total liberdade”. Thomas Leonicini comenta que “ele é o maior revolucionário de nossos tempos, o homem mais corajoso. O líder religioso mais importante do mundo que decide se dedicar exclusivamente àqueles que ficaram para trás, os mais frágeis. Que defende que fragilidade não é motivo de se envergonhar, porque são esses seres que podem construir uma sociedade diferente”.

Falando sobre a experiência de dialogar com o papa durante a escrita do livro, Leoncini disse que o pontífice o “ensinou o infinito”. “Eu entendi  aos poucos o nível de humildade e grandeza que esse homem tem. Falamos sobre o problema dos jovens de se sentirem invisíveis em uma sociedade hiper conectada, hiper social, hiper socializada, e mesmo assim não se sentirem vistos. Então perguntei a ele do que ele tinha medo quando era jovem. E ele me respondeu que temia não ser amado. Esse medo foi superado ao buscar autenticidade, superando a sociedade da aparência de hoje, aceitando-se pelo que é.”.

Leoncini comentou que a total ausência de preconceitos foi o aspecto no Papa Francisco que mais o chamou atenção. “O papa é um ser política, mas ele vai além disso. Ele reflete os ensinamentos do evangelho dia e noite porque acredita fortemente em Jesus Cristo.“

Imprensa imprensa@editoraplaneta.com.br

Crédito foto: L’Osservatore Romano



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