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O árduo caminho da maternidade – Por Deisily de Quadros

Certamente você já ouviu a frase: nasce um bebê, nasce uma mãe, nasce uma culpa. Pois é. Mais um Dia das Mães se aproxima e proponho aqui uma reflexão não sobre a origem dessa celebração ou como o capitalismo se apropriou de mais uma data comemorativa, mas sobre o que é ser mãe na nossa sociedade.

 

Ser mãe é uma das relações humanas mais complexas, profundas e contraditórias que existe. Isso porque ainda vivemos em uma sociedade que prepara a mulher desde pequenina para os afazeres da casa e para os cuidados com uma criança: bonecas, panelinhas e afins são brinquedos que não faltam nas prateleiras de lojas especializadas, na sessão para meninas. Já reparou? E essa mesma sociedade cerca a mulher com discursos muito bonitos e utópicos acerca da maternidade, o que nos faz acreditar que ser mãe é algo sublime em sua totalidade e que é intrínseco à mulher.

 

Com isso, as cobranças de, enquanto mulheres, sermos eficientes donas de casa e mães perfeitas nos afrontam o tempo todo! E se não gostarmos de cozinhar? E se não soubermos cuidar da roupa? E se não quisermos nos tornar esposas e mães? E se um dia nos sentarmos no chão e chorarmos porque a maternidade não é linda o tempo todo, fracassamos então como mulheres e como mães?

 

Não! É claro que não! Há muitas formas de ser mulher e muitas formas de ser mãe. E a perfeição não nos torna mais ou menos mulheres. Mais ou menos mães. Não ser mãe não nos torna menos mulheres. O fato é que é preciso desmistificar a maternidade e discutir essa imposição social do ser mãe. Nem toda mulher quer ser mãe. Por quê? Porque ser mãe não é um caminho natural, um instinto, uma obrigação. Precisa ser uma escolha.

 

A mulher não nasce para ser mãe. Aprende a ser mãe, constrói-se enquanto mãe diariamente. E aprende a duras penas que a maternidade, ao contrário do que propagam aos quatro cantos, não é só plenitude. É ter uma tripla jornada, é perder oportunidades de trabalho, é sentir-se só quando não há uma rede de apoio, é abdicar de tempo, é ter alguém que depende de você, de suas ações, de suas escolhas.

 

A falácia da plenitude materna é escancarada quando dados apontam que, no Brasil, mais de 11 milhões de mulheres são mães solos, segundo o IBGE. E dessas, 63% são mulheres negras. Por ano, tem-se mais de meio milhão de abortos no país. O nível de ocupação de trabalho entre mulheres de 25 a 49 anos que têm filhos é de 54,6%, enquanto homens nessa mesma situação registram nível de ocupação de 89,2%.

 

Os dados mostram como o caminho da maternidade é árduo! Somados a eles, temos ainda o julgamento: criança faz birra, logo vem o dedo de pessoas apontando: mima demais, não sabe educar. E o cerceamento: caras feias quando adentramos espaços com os filhos. Criança incomoda. Aqui não é lugar de criança, portanto não é o lugar de mãe também. E a crença absoluta de que quem cuida da criança é somente a mãe: já notaram que os trocadores estão somente nos banheiros femininos? Pais não trocam fralda também?

 

Temos muito a caminhar ainda para que alcancemos a tão esperada igualdade e a sororidade por parte daqueles que não vivem a nossa rotina. Assim, que este Dia das Mães seja, sim, um dia para comemorar a maternidade, mas essa real, sem nuances, que ganha vida nos embates, entraves, sufocos, contradições. E que seja um dia para refletirmos sobre ser mãe nessa nossa sociedade, e na necessidade de prepararmos um mundo mais igualitário e mais justo para mulheres e homens.



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