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2021 foi o ano mais desafiador para a pecuária? – Por Gabriel Zylberlicht

Mais um ano terminou. Será que 2021 será marcado como um ano desafiador? Será que esse ano que já passou será marcado como um ano repleto de mudanças, quebra de paradigmas, quebra de safras, oscilações profundas de preços? Buscando responder essas questões vamos recapitular e entender o que aconteceu no mercado.

Voltando lá para o primeiro trimestre de 2021, quando o boi gordo era cotado em valores nunca vistos anteriormente, acima do patamar de 300 reais/@, o sentimento do pecuarista era de muita cautela em relação ao planejamento do ano por conta das incertezas na venda do boi gordo, e se este valor seria uma realidade ou algo prestes a cair. Na ponta da compra, a incerteza se deu pela dificuldade na compra dos dois principais insumos para a produção de carne, bezerro e milho.

Falando sobre o mercado de reposição, precisamos, primeiramente, entender em qual patamar do ciclo pecuários estamos no momento. Ao longo do ano de 2021, recebemos boletins que demonstraram uma redução significativa no abate de fêmeas, caracterizando que estamos passando pelo ano de alta.

Essa estratégia de manter as vacas na fazenda ocorre visando aproveitar a escassez de oferta de animais jovens o que, consequentemente, reduz o número de animais ofertados para o frigorífico, encarecendo a carne. No outro lado da moeda, essa redução no abate de fêmeas aumenta o número de animais jovens ofertados ao mercado, o que gera uma pressão baixista nas cotações.

No ano de 2021, o resultado da maior oferta de animais no mercado só foi sentido em meados de abril-maio. Os meses seguintes a essa virada foram marcados por uma grande dificuldade na compra de animais para a composição e reposição do rebanho.

Além do desafio de baixa oferta de animais, o pecuarista passou por outra forte dificuldade: a manutenção de caixa na fazenda. Como observado no gráfico, o preço do bezerro, que não passava do patamar de 1.500 reais/cabeça até 2019, passou para valores em torno de 2.700, 3.200 reais/cabeça. Dessa maneira, a operação em si passou a ser muito mais cara dos últimos anos, resultando em mais risco para toda a operação.

Passando para o segundo principal custo na produção de carne, o milho apresentou uma valorização de preço muito forte. Comparando com o ano de 2018 e a primeira metade de 2019, as cotações passaram de uma oscilação 3, 4 reais na média mensal para mais de 40 reais. O gráfico abaixo demonstra as variações no preço do milho nos últimos 12 meses.

Boa parte da contribuição desse aumento de preço se deu pela elevada demanda da commodity no mercado externo puxada pela vantagem cambial do real frente ao dólar. Assemelhando ao que ocorreu na reposição, o pecuarista se viu no desafio de encontrar alimento para seu rebanho, visto a baixa oferta no mercado interno e a altíssima necessidade de caixa para a compra e reposição do insumo na sua propriedade.

Analisados os dois principais custos de produção, vamos entender agora como foi a parte verde do caderno de contas. Se buscarmos a variação de preço de qualquer produto, do óleo de soja ao carro, a curva será de valorização. Esse aumento de preço dos produtos casado com o cenário de inflação, alto nível de desemprego e redução/paralisação no auxílio emergencial impactaram diretamente no consumo de carne bovina por ser uma das proteínas mais caras e substituíveis por outras fontes mais baratas, como carne suína e aves. Apesar dessa redução em consumo de carne no mercado interno, as cotações do boi gordo seguem em alta praticamente o ano inteiro como ilustrado no gráfico abaixo:

Entre os pontos que possibilitaram uma melhor remuneração pela carne em 2021, temos como destaque a redução na oferta de animais prontos para o abate – ponto este justificado pela própria posição do ciclo pecuário que estamos – e altíssima demanda por carne bovina brasileira no mercado externo, sendo este um dos protagonistas no ano de 2021.

Analisando alguns indicadores pecuários como  a relação de troca entre boi gordo/bezerro e a relação de troca boi gordo/milho é impactante o desafio que o pecuarista teve neste ano para manter sua fazenda com margens saudáveis. Quando pensávamos que o ano estava perto do fim fomos surpreendidos com 2 casos atípicos da Doença da Vaca Louca, resultando na suspensão direta da exportação de carne para o nosso principal cliente e muita insegurança no mercado.

As margens da produção, que passaram apertadas durante todo o ano, passaram para o negativo com a queda de 30 reais/@ em menos de 30 dias. Essa foi a “cereja do bolo” para um ano de grandes dificuldades. Essa breve análise do ano de 2021 só demonstra a dificuldade e quanto é desanimador trabalhar nessa área, correto? ERRADO! A atividade da pecuária e essa bandeira levantada por todos que atuam nessa área nunca foi tão importante para os brasileiros como em 2021.

Toda essa dificuldade passada pelo pecuarista e também o agricultor foi convertida em desafio gerando uma estimativa do Valor Bruto da Produção Agropecuária acima de 1,10 trilhões de reais segundo o levantamento do MAPA.

O ano desafiador de 2021 representou um aumento de 10% em relação ao ano 2020. Na pecuária, o aumento em termos de faturamento foi de 336,23 bilhões de reais em 2020 para 356,71 bilhões em 2021. No mercado externo, a exportação de carne bovina in natura estimada para 2021 é de 2.718 milhões de toneladas, um aumento de 2% em relação à 2020, apesar da suspensão das importações pela China (Athenagro, out 2021). Segundo os dados do CEPEA/ESALQ, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o agronegócio, no acumulado de janeiro-setembro fecha com uma participação no PIB (Produto Interno Bruto) de 28%.

Voltando à pergunta inicial do texto, se 2021 foi o ano mais desafiador para a pecuária, é possível afirmar que sim, foi o ano mais difícil mesmo, excluindo todas as dificuldades que passamos devido a pandemia.

Mesmo assim, com todas essas dificuldades, o pecuarista não desanimou, lutou e trouxe, além de milhões de toneladas de alimentos para a população brasileira e para o mundo, milhões de empregos e benefícios para as famílias, milhares de estudos e contribuições para a academia fornecendo novas pesquisas, conhecimento e incentivando a formação de novos profissionais que buscam produzir mais alimentos utilizando menos recursos naturais e impactos ecológicos, bem como uma forte contribuição para a economia brasileira, trazendo esperança e motivação para a construção de um país mais forte e exemplo no agronegócio para o redor do mundo.



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