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Aumento de mortes por Covid-19 está ligado à poluição do ar segundo estudo americano

Um estudo de oito pesquisadores americanos ligados à Faculdade de Ciências Ambientais e Florestais da Universidade Estadual de Nova York, publicado na segunda quinzena deste mês, revela que a poluição do ar, em grande parte causada pela emissão de particulado na atmosfera pelos veículos automotores, está diretamente ligada a um aumento de mortes por covid-19.

“Aumentos no índice de emissão de poluentes tóxicos estão associados com altas de até 9% na quantidade de vítimas fatais da doença causada pelo novo coronavírus”, concluíram os pesquisadores.

O trabalho reforça conclusões pioneiras de pesquisadores italianos e chineses durante o pico da pandemia no norte da Itália e na China, mostrando que a exposição contínua à poluição do ar amplia o risco de sintomas graves em caso de infecção pela Covid-19 e aumenta a probabilidade de morte por síndrome respiratória aguda.

A professora do Departamento de Tecnologia Sucroalcooleira da UFPB, que atua, principalmente na área de monitoramento e qualidade do ar, Márcia Helena Pontieri, explicou que a poluição atmosférica é uma mistura de gases, tais como monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx), além de partículas, conhecidas como Material Particulado (MP), emitidos por fontes naturais ou principalmente pelas atividades humanas, as chamadas fontes antropogênicas.

Ela explicou que as indústrias, usinas termoelétricas, os veículos automotores, a agricultura e até mesmo as atividades domésticas podem gerar poluentes atmosféricos. “Mas hoje, a grande preocupação é a queima de combustíveis fósseis, principalmente dos veículos automotores”, alertou a professora que também tem doutorado em Química.

Márcia Pontieri comentou que o estudo deixa claro que a contaminação atmosférica agrava os casos de Covid 19, seja por destruição dos cílios das células das vias aéreas, que atuam como proteção e impedem a entrada de materiais estranhos no organismo, seja por causar doenças respiratórias que dificultam ainda mais a recuperação dos doentes infectados pelo vírus. “Estudos mostram que há um aumento do número de casos de Covid 19 por 100 habitantes, em áreas de cuja qualidade do ar é pior”, lembrou.

Para a professora da UFPB, um outro ponto que os cientistas vêm considerando, é o fato de que, o vírus pode se agregar, ou “grudar” em partículas minúsculas, que chamamos de Materiais Particulados ou aerossóis e que ficam em suspensão na atmosfera. Então, em lugares onde a concentração dessas partículas é maior, existe uma maior probabilidade da contaminação pelo ar.

“O médico patologista e pesquisador da USP, Paulo Saldiva, alerta para o fato de que, como essas partículas são muito leves e não depositam facilmente, então, em um local fechado, quando alguém contaminado espirra, ou mesmo conversa normalmente, o vírus, agregado às partículas permanece no ar, não havendo nenhuma eficácia no distanciamento de 1,5 metros, já que ele se espalha no ambiente. Por isso é imprescindível o uso da máscara em ambientes coletivos, mesmo que no local não tenha ninguém”, orientou Pontieri.

Ela ainda levou em consideração um outro fator que são os incêndios acidentais ou criminosos, pois emitem uma grande quantidade de Material Particulado que pode adsorver outros materiais presentes na atmosfera, inclusive o vírus da Covid 19. “Essas fuligens, por ação dos ventos, se deslocam das áreas de queimadas para outras regiões e podem contribuir para o agravamento dos casos da doença”, lembrou.

“Há evidências suficientes na literatura médica mostrando que os pulmões de indivíduos expostos à poluição do ar desenvolvem uma inflamação crônica que se manifesta produzindo mudanças na estrutura do epitélio respiratório. Isto também prejudica a defesa imune, que funciona como uma segunda barreira contra micro-organismos patogênicos”, comentou o professor Paulo Saldiva.

Ele é membro do painel de especialistas que estabeleceu os padrões de qualidade do ar adotados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e é integrante do grupo que definiu o potencial cancerígeno da poluição atmosférica para a Agência Internacional do Câncer.

Metas de redução de emissões

O estudo analisa ainda o impacto na mortalidade por poluentes classificados como tóxicos, os chamados HAPs (Hazardous Air Pollutants), emitidos por diversas fontes de poluição, sendo particularmente relevante a dos veículos automotores em zonas urbanas.

Entre os poluentes considerados HAPs estão as partículas de diesel, aldeídos como acroleina, acetaldeído e formaldeído, e hidrocarbonetos aromáticos, como benzeno e naftaleno.

As conclusões, segundo o estudo, são importantes para nortear as ações de governos, que, também por conta dos danos causados pela pandemia na economia, vêm sendo pressionados pelas fabricantes de automotores a postergar os prazos de implantação de metas obrigatórias de redução de emissões veiculares.

No Brasil, por exemplo, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e a Associação Brasileira de Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) propõem o adiamento por três anos das novas etapas do Proconve, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores. Segundo a indústria, seriam necessários investimentos de R$ 12 bilhões para adotar as regras, elaboradas em 2018, no prazo original, de 2022.

Assessoria de Comunicação

Foto: Google

 



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