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CMCG promove sessão especial alusiva ao Dia Internacional de Conscientização do Autismo

O mês de abril é marcado por uma causa muito especial: a conscientização do Autismo. A ONU (Organização das Nações Unidas), em 2008, estabeleceu o dia 2 de abril como sendo o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Nesta quinta-feira (7) foi realizada na Câmara Municipal de Campina Grande, uma sessão especial alusiva à data, uma propositura do vereador Olímpio Oliveira (UNIÃO).

Estima-se que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) atinja, no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas. Indivíduos no espectro apresentam dificuldades ao interagir socialmente, além de deficiências verbais e físicas e padrões restritivos e repetitivos de comportamento. No entanto, tais limitações não os impedem de desenvolver diferentes habilidades e viver uma vida plena e significativa.

A luta pelo fim da discriminação contra pessoas com autismo deve ser constante. É dever de todos construir uma sociedade inclusiva e acessível, onde pessoas com autismo e outras deficiências tenham as mesmas oportunidades: educação, emprego, acesso à informação e participação na vida social, política e cultural.

O presidente da CMCG, Marinaldo Cardoso (Republicanos) abriu os trabalhos dando as boas-vindas aos presentes na Câmara. Em seguida convidou os palestrantes para a formação da Mesa: Gustavo Mendonça, representante da OAB; Lívia Sales – coordenadora de Saúde Mental do município, na oportunidade representando o secretário Gilney Porto; Priscila Oliveira, mãe de autista; Anuska Erica, do Viver Autismo e mãe de autista; Adriana Costa, do CAPS 1.

JUSTIFICATIVA

Olímpio Oliveira (UNIÃO) iniciou a sua justificativa fazendo o registro de uma mensagem da Dra. Cíntia no Instagram publicada no dia 2 de abril, dizendo: ‘temos autismo 24h, 365 dias do ano e pelo resto da vida. Somos testados de todas as formas. O TEA tem que estar na ordem do dia sem ser romantizado. É necessária estrutura para diagnóstico precoce’.

O vereador informou que 843 autistas estão matriculados na Secretaria de Educação do Município e apenas 300 cuidadoras e que o drama das mães começa pela falta de um laudo. “Mas estamos avançando”, frisou.

O presidente Marinaldo parabenizou Olímpio pela sessão especial e passou a presidência dos trabalhos ao autor da propositura.

Edna Silva – coordena Políticas Públicas em Campina Grande – disse que é complicado iniciar uma fala numa sessão especial.

Fala-se de Kleber, um menino autista pintor; Derik, 10 anos campeão de vídeo game; Natália uma fotógrafa; Gil, psicanalista adulto; Brenda, toca, canta e encanta.

Mãe autista não toma banho sossegada, ir ao banheiro é difícil. São mulheres que precisam de colo. “Hoje estamos amparando as mães, fazendo uma busca ativa com um olhar de empatia para todas as famílias”. Como diz Laissa Guerreira – Que o preconceito seja raro e o amor abundante -.

Renata Vilarim – coordenadora de Educação Especial da SEDUC, ela como mãe de uma criança autista de nove anos, diz que a causa precisa de ações. E que a Rede Municipal passou de 843 para 942 autistas matriculados. Que muitas crianças da rede privada de ensino estão migrando para as escolas municipais.

Ela falou que assinou um TAC com o Ministério Público e informou que no próximo dia 25 será realizado um seminário sobre Autismo e possibilidade; e a SEDUC vai promover a primeira formação dos apoiadores.

A norma técnica 18 do MEC, define a diferença entre o cuidador e o apoiador. Cuidador atende as necessidades de mobilidade das crianças; apoiador participa da intervenção pedagógica.

Carol Gomes (vereadora licenciada), que participa da Frente Parlamentar do Autismo, defende que as políticas sejam fortalecidas e postas em prática. “Falo como causa de vida e profissional de saúde, é uma bandeira de luta para trazer benefícios para o autismo que é para ontem. É preciso entender e colocar em prática e que as peças possam se encaixar. Esta é uma causa que não pode passar, política pública tem que ser assertiva e inclusiva”, frisou.

Anuska Erika – Analista do comportamento e fundadora do Instituto Viver Autismo e mãe de autista, pontuou que a plenária não está cheia porque as demandas das famílias com crianças autistas são infinitamente grandes, que ainda trouxe o seu filho e quando a sirene tocou, ela precisou levá-lo de volta para a casa. Ela disse que essa é apenas uma das adaptações sociais que precisam enfrentar. Também tratou sobre o assunto escolar, dizendo que não se consegue fazer um processo de adaptação e de individuação da criança, ressaltando que eles precisam entender sobre o neurodesenvolvimento da criança individualmente.

Por fim, pontuou algumas dificuldades no acesso a tratamento multidisciplinar, como a dificuldade de especialistas (neuro e psiquiatras), um núcleo com intervenções direcionadas e de uma intervenção focada na criança ou na pessoa com TEA, além de um plano focado e individualizado em cada pessoa.

Lívia Sales, coordenadora de Saúde Mental do Município, informou que são 70 milhões de autistas no mundo e dois milhões no Brasil. “É preciso promover saúde, promover estudos e pesquisas além do estímulo precoce”. Ela também fez o registro do Pedal do Autismo realizado com o apoio da Prefeitura, que hoje oferece quatro serviços de saúde: CAPS 2 e 3, CER e Capsinho que atende 660 crianças de até seis anos. Lívia agradeceu a CASA e parabenizou o vereador Olímpio Oliveira que defende a causa.

Frank Alves (PROS) falou da sua felicidade pelo debate da causa autista na Câmara, e ao prefeito Bruno Cunha Lima que criou projetos voltados ao autismo e agradeceu as vereadoras Carol Gomes e Fabiana Gomes pelo engajamento na causa autista.

Arthur Espíndola – Pai de Autista, pontuou o seu papel enquanto pai de autista, que são poucos presentes na sessão e disse que ao descobrir o diagnóstico, destinaram as suas vidas para os seus filhos autistas. Frisou que o cansaço físico é maior que se pode descrever e o cansaço psicológico é ainda mais difícil. Por fim, também ressaltou que o seu filho é autista, que não é um menino comum, e que é preciso que as políticas sejam adaptáveis para estas crianças.

A Dra. Cintya Azevedo – Vice-presidente da Comissão de Estudos em Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo da OAB/PB foi à Tribuna para falar sobre o fato triste que marcou o dia 2 de abril, se referindo ao falecimento da criança Alexandre, que engoliu um pedaço de bexiga durante a sua terapia.

Ela mencionou que faltaram profissionais com técnicas e conhecimento relativos aos primeiros socorros, além de kits de primeiros socorros no local. Aproveitando o momento, Cintya entregou uma minuta de projeto de lei ao vereador Olímpio Oliveira, para situações como essas não aconteçam mais. Ela informou que o projeto institui a obrigatoriedade em estabelecimentos públicos ou privados, do seu corpo docente de ter noções básicas de primeiros socorros, em atendimento à lei federal 13.722 de 2018.

Fabiana Gomes (PSD) relatou a emoção ao presenciar as histórias trazidas na manhã de hoje e disse que se sente feliz por compartilhar o seu mandato nessa gestão que tem promovido os cuidados com as pessoas atípicas. Além disso, informou que aos poucos, as grades curriculares das graduações têm tratado do tema. Por fim, destacou que esse momento rico e emblemático, necessário para que todos possam aprender cada vez mais, uma vez que o autismo estará cada vez mais presente na sociedade e que é necessário incluir, na essência, a palavra inclusão.

MINUTO DE SILÊNCIO

O vereador Olímpio solicitou um minuto de silêncio em memória póstuma ao pequeno Alexandre Moura Magalhães.

O Dr. Gilvan Rangel – psicanalista, autista, pai de autista e conselheiro da Onda Autista, ressaltou os pontos citados sobre sensibilidade à acessibilidade. Disse também que a sua presença na tribuna significa um divisor de água na história campinense, uma vez que a comunidade dos autistas permaneceu por muito tempo em silêncio, sem manifestar a sua existência.

Ele também fez um questionamento relacionado ao mercado de trabalho para pessoas com autismo, questionando ‘’será que estão oferecendo espaços para pessoas neurotípicas? ’’ – Questionou. Gilvan ainda destacou que o ‘hiperfoco’, uma característica do autista, pode gerar resultados melhores do que muitas outras pessoas.

Em relação à educação, questionou se está sendo oferecida educação destinada para neurodiversos, inclusive desde à educação primária, até à universidade, criando estratégias para comunicação e ambiente inclusivo, respeitando cada necessidade do autista. Para as pessoas da política e das leis, mencionou a importância dos autistas serem ouvidos por essas pessoas, para que assim seja possível alcançar uma evolução humana na sociedade, com uma sociedade inclusiva, que cresce em números mais rápidos do que soluções.

Olímpio disse que a CMCG vive um momento histórico e que se sentia honrado com a fala de Gilvan.

Vera Caroca, bisavó de criança autista e funcionária da Casa de Félix Araújo, também fez o seu registro. Mencionou sobre a sua experiência pessoal, do quanto ama o seu bisneto autista e destacou que as pessoas se espantam quando ela diz que tem um neto autista, mas que diante disso, busca conscientizar as pessoas que autismo não é doença.

Priscila Oliveira – psicopedagoga e mãe de autista fez um relato pessoal, desde a descoberta do seu filho com autismo, até o momento em que decidiu militar em prol da causa. Ela contou sobre o momento que resolveu partir em busca de tratamentos melhores para o seu filho, realizou uma carreata e nem imaginava a visibilidade que receberia. Em seguida, junto com suas amigas, ela relatou que se acorrentou em frente ao Tribunal de Justiça da Paraíba e de Brasília e que em breve nova manifestação será realizada no mesmo local, contra o rol taxativo. Ela também mencionou o caso da criança Alexandre, e disse que devido ao acontecimento, fez um abaixo assinado para que as clínicas tenham um socorrista, que os terapeutas tenham formação de primeiros socorros e que o local tenha o aparelhamento preciso para salvar vidas.

Sobre a exaustão das mães, mencionou o caso de uma mãe atípica que foi dormir e o seu filho morreu afogado na piscina, por isso parabenizou Edna pelo projeto ‘’colo de mãe’’ e ressaltou como tantas outras cidades precisam disso. Por fim, ela também parabenizou os pais de autistas que não abandonaram seus filhos e a todas as mães que estão sempre na luta, em especial as mães solos como ela, e registrou a importância de outras câmaras de vereadores seguirem o mesmo exemplo.

O Dr. Gustavo Mendonça – Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos dos Autistas e Portadores de Doenças Raras da OAB/CG registrou inicialmente a participação de um autista na tribuna e pela participação de outro pai, Arthur, que normalmente apenas as mães estão presentes. Gustavo também mencionou o tema da campanha realizada nesse ano que diz ‘’lugar de autista é em todo lugar’’, mas que ele indo além, disse que o lugar de autista é onde ele quiser.

Sobre educação, questionou ’porque os filhos têm direito a escola que foi idealizada para elas, e as crianças autistas, não possuem? ’. Nesse sentido, ele também mencionou que não se fala só de educação, mas que tudo isso perpassa pela saúde, educação, lazer e mercado de trabalho. “O mundo foi idealizado por pessoas tidas como ‘’normais’’, mas a pessoa normal não existe, todos nós somos normais, diferentes, o normal é ser diferente’’ – registrou.

Sobre a comissão, mencionou que nesse mês de abril realizou no último sábado o passeio ciclístico, com o objetivo de movimentar a população, e registrou nas discussões que é preciso a participação dos autistas, e que o documento final precisa ser com a visão dessas pessoas.

A Dra. Kalígina Machado – Doutora Neuropsicopedagoga especialista em ABA no tratamento do TEA, relatou a sua primeira experiência de trabalho como professora, quando se deparou há 20 anos com um autista em sala de aula. Em seguida, se especializou no tratamento do TEA, e contou a sua realidade como profissional, precisando estudar muito e se atualizar com os artigos internacionais sobre o tema. A profissional também levantou um questionamento relativo ao autismo em adultos, questionando como será a estimativa é a probabilidade para o futuro dessas pessoas, diante do aumento de diagnósticos. ‘Quem vai atender a essas pessoas, quem serão esses profissionais? ’ – Questionou.

Vânia Pinheiro, fundadora do Instituto Brenda Pinheiro (nome da sua filha com autismo) e mãe de autista, relembrou o momento de descoberta da sua filha com autismo e disse que só foi indicado para a filha, as terapias transdisciplinares. Diante da sua angústia, sem saber o que seria da sua filha e das demais pessoas com autismo, ela resolveu fundar um instituto específico nas terapias para o autismo, além da realização de outras ações, e que o local é pioneiro em Campina Grande e nas regiões.

Ela destacou que o instituto funciona, que já é concreto, que comprova a eficácia, mas que infelizmente não existem parcerias para que destinem verba ao instituto que é consolidado. Ela também relatou a história de evolução da sua filha Brenda Pinheiro, o que comprova a eficácia das políticas e ações desenvolvidas para as pessoas com autismo e encerrou sua fala com uma frase emocionante: ‘quando o amor é amar? ’.

A Dra. Samia Duarte – psicóloga e mãe de autista, também relatou a sua experiência com o seu filho, que possui o nível mais elevado do autismo, apresentando crises mais severas, e contou que no primeiro dia de aula precisou buscar o seu filho imediatamente porque ele teve acessos de raiva e começou a quebrar os materiais da escola. Ela fez um apelo principalmente voltado para os autistas de grau elevado, uma vez que dificilmente o seu filho poderia estar presente. Além disso, ela pediu que a sociedade não questionasse, não julgasse e afirmou que ‘’a palavra empatia que é muito famosa, é muito pouco praticada’’ – finalizou.

Professor Moises Alves, também deixou suas palavras de apoio às famílias e às pessoas com autismo, ressaltando a importância do respeito, da educação e da importância da defesa dos direitos humanos, para que sejam asseguradas políticas públicas para todas as pessoas. O professor também mencionou o quanto pode aprender diante de todas as falas e que na manhã de hoje, a sessão estava promovendo uma nova pedagogia humana. ‘’Como nós somos diversos e iguais’’ – registrou.

O vereador Olímpio Oliveira encerrou a sessão, destacando a grandeza de todas as falas, mencionando principalmente a minuta do projeto lei que a Casa irá apreciar, além da proposta em condensar em um único documento todas as demandas que surgiram, e que todos terão acesso ao seu e-mail para enviar as suas propostas.

Ele também mencionou as frases que foram divulgadas pela mãe Vânia, do Instituto Brenda Pinheiro, onde diz que ‘’o autismo não é o inimigo, o inimigo é o preconceito’’ e que ‘’a vida é como um quebra cabeça, deveríamos parar de tentar encaixar as pessoas onde elas não cabem’’ e “Deus não erra” de Brenda Pinheiro.

Na próxima terça-feira (12) será realizada mais uma sessão ordinária em formato híbrido, a partir das 9h30.

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DIVICOM/CMCG

Foto: Josenildo Costa



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