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Crise na guerra e corrupção derrubam ministro da Defesa da Ucrânia

 

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, anunciou neste domingo (3) que propôs ao Parlamento do país a demissão do ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, uma das mais reconhecíveis faces da resistência do país à invasão russa iniciada em fevereiro de 2022.

 

Não que ele seja necessariamente um pacifista, já que a imprensa estatal russa o acusava de ser um agente dos EUA postado nas rodadas de conversa em Belarus, em março do ano passado, para espionar e tentar cooptar membros da delegação russa.

Mas a entrada de um ex-negociador no jogo poderá ser lida como uma sinalização a Moscou. Além dos eventos em tempos de guerra, ele havia fundado um grupo de negociação para normalizar relações entre a Ucrânia e a Rússia chamado Plataforma da Crimeia -ele é da etnia tártara, uma das mais oprimidas historicamente na península.

Reznikov cai em um momento bastante delicado. Sua saída vinha sendo especulada há semanas, após um grande escândalo de corrupção envolvendo o alistamento militar ucraniano. Todos os chefes regionais responsáveis pelo setor foram demitidos por vender isenção do serviço, e ele já havia enfrentado uma crise com denúncias de desvios de dinheiro no Exército em 2022.

Mas seu maior problema é a contraofensiva ucraniana, iniciada em 4 de junho e que até aqui não trouxe um resultado palpável além de conquistas pontuais para Kiev -além de uma ofensiva própria dos russos que tem avançado no nordeste do país.

As dificuldades ucranianas, apesar do triunfalismo esposado pela mídia europeia e americana de que um trecho da primeira de três linhas defensivas num setor de Zaporíjia (sul) enfim foi ultrapassado por Kiev na semana passada, têm atraído críticas e ceticismo no Ocidente.

Neste mesmo domingo, a chancelaria ucraniana divulgou que foi atingida a marca de US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) só em ajuda militar de países da Otan [aliança militar ocidental] e outros aliados dos Estados Unidos a Kiev desde o começo da guerra. Isso equivale a quase 23 vezes o orçamento anual de defesa da Ucrânia em 2021, antes da invasão.

Nem todos os ocidentais parecem dispostos a pagar a conta sem retorno condizente. O chanceler Dmitro Kuleba perdeu a paciência nesta semana, dizendo que os críticos deveriam “calar a boca”. Autoridades como o então secretário de Defesa do Reino Unido Ben Wallace sugeriu que o Ocidente não era “a Amazon” das armas, e o chefe de gabinete do secretário-geral da Otan falou recentemente que Kiev tinha de ceder territórios aos russos.

“Reznikov passou por mais de 550 dias de uma guerra em grande escala. Acredito que o ministério necessita de novas abordagens e outros formatos de interação, tanto com os militares como com a sociedade como um todo. A Verkhovna Rada [Parlamento] da Ucrânia conhece bem o sr. Umerov, ele não necessita de apresentações adicionais. Espero que apoie esta candidatura”, afirmou Zelenski em seu pronunciamento noturno.

A despeito das razões reais, a mudança implicará quase com certeza uma mudança tática ou estratégica na condução da guerra. Zelenski tem suportado as pressões e já disse que será candidato à reeleição em 2024 caso o conflito tenha acabado ou se a lei marcial que hoje impede pleitos for modificada para permiti-los em tempos como o atual.

O presidente tem se esforçado para cumprir as exigências ocidentais em relação aos padrões de probidade de seu país, notoriamente baixos. Em um exemplo graúdo, seu padrinho político, o bilionário Ihor Kolomoiski, foi preso neste sábado (2) sob acusação de corrupção.

Só que a realidade é que o relógio corre com outra eleição no horizonte, a de novembro de 2024 nos EUA. O presidente Joe Biden vai buscar ficar no cargo e precisa ter o que dizer aos eleitores acerca do rumo que dará à ajuda bilionária a Kiev na campanha já na virada do ano. Seu provável oponente republicano, o antecessor Donald Trump, já sinalizou que quer deixar Zelenski sozinho.

 

FOLHAPRESS

Foto:© Getty Images



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