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Inovar com passos firmes Vanderlei Salvador Bagnato (*)

O Brasil tem um bom caminho pela frente para conquistar um patamar de destaque em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). O registro de patentes é um dos indicativos da nossa presença mundial nesse setor, mas não é o único fator a ser considerado. Nesse quesito, o país ainda ocupa o 70º. lugar do ranking do Global Innovation Index (GII) entre os 141 países que estão relacionados no levantamento realizado em 2015. Essa posição reflete apenas parte do nosso panorama de inovação. A nosso favor, contam ainda, a competência no desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas, uma boa infraestrutura e recursos humanos brilhantes, que são essenciais nesse processo e podem contribuir para mudar esse panorama.

Ao longo das últimas décadas, importantes instituições brasileiras de ensino superior construíram um patrimônio de excelência mundial, comparáveis aos mais importantes centros de referência de P&D das nações desenvolvidas. A academia cumpre um papel de extrema importância nesse processo, inclusive com pesquisas em parceria com instituições internacionais. O nosso patrimônio inclui ainda uma infraestrutura indiscutivelmente preparada para atender às mais variadas demandas do mercado nacional com centros de pesquisas e laboratórios prontos para as mais exigentes necessidades da indústria e outros setores econômicos.

Um dos desafios essenciais nesse processo é cada vez mais aproximar todo esse patrimônio das nossas instituições de ensino junto ao setor produtivo brasileiro. Nosso trabalho precisa caminhar para diminuir as barreiras que ainda dificultam os projetos de cooperação entre esses agentes. Essa aproximação é imperativa para as nações que almejam ampliar a competitividade entre os seus setores produtivos, além de contribuir para criar riqueza e novas oportunidades de negócios.

Empresas, pesquisadores e demais agentes envolvidos com processos de inovação conhecem de perto as diversas dificuldades para o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos. Um dos grandes desafios está no processo de registro de patentes, que precisa ser aperfeiçoado. Há ainda a necessidade das P&D chegarem até o mercado através da transferência de tecnologia, o que induz aos necessários trâmites jurídicos que acompanham este processo e que precisa ser ajustado e flexibilizado em benefício da sociedade.  Ou seja, quanto mais a tecnologia é aplicada em favor da sociedade, mais inovações são geradas.

Por isso, precisamos ter uma atuação forte junto a parlamentares e governos para acelerar as mudanças nesse processo de registro. Mas não podemos esquecer que o desenvolvimento tecnológico não se concretiza apenas com o aumento do número de patentes, mas com o incremento de produtos disponibilizados no mercado por meio da transferência de tecnologia e geração da inovação.

As agências de fomento e os investimentos também cumprem papel essencial nesse processo. A criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que segue o modelo da exitosa Embrapa, foi um grande passo para a Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) brasileiro. O modelo prevê que as demandas partam das empresas para o progresso nas pesquisas acadêmicas, resultando em inovação de fato. Por outro lado, os investimentos nessa área, tanto do poder público como das empresas privadas, são essenciais nessa corrida que envolve grandes competidores internacionais. No Brasil, os recursos aplicados em P&D ainda estão muito aquém das nações de referência em inovação. A Coréia do Sul, por exemplo, investe o equivalente a 4% do PIB em P&D, enquanto o Brasil chega apenas a 1,2% do seu PIB. Um olhar mais atento a esses números também mostra que no país asiático, 3,1% dos recursos vêm do setor privado e apenas 0,95% vem do poder público. Por aqui, o governo dispende 0,7% dos recursos financeiros e a iniciativa privada responde pelo restante dos investimentos.

Precisamos unir esforços e acentuar as mudanças para criar um ambiente acolhedor para as inovações no país. A Agência USP de Inovação tem como um de seus objetivos aproximar os setores produtivos da economia brasileira com as pesquisas realizadas na universidade. Por isso, criamos mecanismos para facilitar e agilizar que os resultados das pesquisas realizadas nos nossos institutos consigam atender às demandas do mercado. Os registros de patentes das pesquisas realizadas pelos nossos institutos, por exemplo, saltaram de 40 solicitações em 2004 para 94 pedidos em 2014. Estamos ainda buscando ampliar nossos números de licenciamentos junto a instituições externas a Universidade de São Paulo tendo hoje 43 convênios assinados.

Uma outra linha de trabalho busca estimular o empreendedorismo por meio de diversas ações como a realização do BIN@SP, um evento que contará, em novembro, com empresários, pesquisadores, estudantes, empreendedores e profissionais ligados à inovação. A proposta desse encontro é reunir representantes da indústria, academia, investimento, incubação, desenvolvimento de negócios e agência de desenvolvimento econômico para apoiar o compartilhamento de boas práticas, conhecimento, além de promover a inovação aberta e a oportunidade de aproximação e negócios.

Por isso, defendemos um planejamento detalhado entre os diversos setores ligados a P&D para transformar a pauta de inovação em um tema essencial para o desenvolvimento do país. Para nós, esse desafio apenas está começando.

(*) Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato, coordenador da Agência USP de Inovação.

Edmir Nogueira

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