Não seja macho, seja homem. Por Breno Rosostolato*

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No período Paleolítico, a sexualidade feminina era o símbolo máximo de fertilidade. As representações de deuses possuíam imagem e corpo de uma mulher. O homem desconhecia a importância de seu papel no nascimento de uma criança e assim a mulher era respeitada como sendo um ser que proporcionava a vida e a morte. A deusa-mãe era cultuada e o sucesso do cultivo na lavoura, bem como o cultivo do alimento, era atribuído às influências da deusa da fertilidade.

Desconhecia-se o vínculo entre sexo e fecundação. Os homens, com o tempo, perceberam que matar os animais para se alimentarem causava a diminuição deles. Resolvem, então, domesticá-los, abandonando assim a caça. Através da observação do homem nas ovelhas é que ele descobre a contribuição do cordeiro na procriação. É diante desta revelação que o homem toma para si a concepção da vida através do sêmen e assim, diminui a importância da mulher que, por sua vez, perde sua autonomia, a liberdade sexual e sua importância na sociedade. É neste momento que acontece uma mudança radical na relação, nos papéis e principalmente nas mentalidades entre homens e mulheres. O homem passa a enaltecer sua importância como o detentor da vida através do sêmen colocado na mulher. O macho, enfim, surge e cultua uma doutrina de virilidade e poder, em que a mulher deve resignar-se e obedecer. Ao pênis, pompas de um instrumento essencial, que produz o líquido da vida.

 Este é o machismo. Um fenômeno perpetuado na história, de conceitos de superioridade ideológica e que vai sustentar um sistema patriarcal que consiste na figura do homem a centralização de decisões, regras, padrões, normas e condutas. E é na forma de pensar que se sustenta o machismo, as imposições do opressor e a submissão do oprimido. O conceito equivocado do sexismo dá a tônica desta disputa. Ações que privilegiam o sexo masculino ou o feminino se digladiam na tentativa de derrotar uns aos outros, são brigas enfadonhas e desnecessárias. O tempo de servilismo das mulheres acabou na medida em que o androcentrismo, ou seja, os privilégios masculinos, sucumbem diante dos movimentos de igualdades sexuais.

A “cultura do machão” criou conceitos e estereótipos de que são e como devem ser os homens. Não podem dispensar mulher nenhuma e que devem ser sempre viris. Existe uma constante preocupação com o pênis e a ereção. Falhar é inadmissível. Devem ser soberanos e comandar, ser fortes e não demonstrar fraquezas, para tal, devem se impor, nem que para isso utilizem a violência. Controlar a família e a esposa são características valorizadas no machão, que enxerga a mulher como sua propriedade. Haja vista que para assegurar filhos legítimos, os maridos aprisionavam suas esposas em casa e restringiam a vida social delas. Uma maneira de coibir a o adultério da esposa e garantir a legitimidade da paternidade. Mulheres subordinadas à dominação do marido é a regra básica do patriarcado que enaltece uma linhagem masculina. O privilégio ao homem sucumbe a importância da mulher. O curioso é que este conceito de postura feminina foi por muito tempo considerado o aceito socialmente: submissa, obediente e subserviente ao marido.

O ideal masculino ainda é perseguido pela maioria dos homens. Eles devem ser fortes, austeros, viris, ter sucesso, ousadia e, sobretudo, serem bons de cama. Para se alcançar este ideal de superioridade, homens baseiam-se no controle e na manipulação, impedindo a argumentação do outro. Este é o “machão”, que se impõe de maneira violenta para que a companheira tenha medo e assim, se submeta a este controle. A violência física é consequência da violência emocional, que começa com um olhar de desprezo, intimidações e coerções. Esse tipo de homem procura se manter, ao mesmo tempo, se baseando em conceitos de “machão”, ao mesmo tempo em que procura se manter através de conceitos patriarcais e de uma violência contra a mulher que só denuncia uma fragilidade, confusão e covardia. Esta mentalidade equivocada começa a declinar e revela uma severa crise ideológica.

Diante de todas estas exigências e cobranças da sociedade, os homens, hoje, dão sinais evidentes de cansaço e insatisfação em manter este papel do machão, se libertando cada vez mais. Esta máscara foi usada durante tanto tempo que fez com que os homens esquecessem quem de fato são. Possuem necessidades assim como as mulheres e como tal são sensíveis, frágeis, amorosos e podem demonstrar seus sentimentos sem nenhum constrangimento. Este é o homem de verdade e que dispensa aspas. Ele não se coloca igual a mulher, porque, de fato, seu lugar sempre foi ao lado dela. Respeita e reconhece o espaço feminino. O homem de verdade dá e recebe, sem precisar se impor. Não precisa usar a violência e se vale do diálogo, buscando o vínculo. Não é onipotente tampouco autossuficiente. Está disposto a ensinar, mas, principalmente a aprender com a mulher. Não precisa concorrer ou disputar com outros homens a caverna com suas claves. A propósito, o homem não quer ficar na caverna e busca constantemente discutir e se reposicionar na sociedade, desmistificando a cultura ditatorial do “machão”.  Então, sejamos homens e não machos.

* Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM



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