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Câmara de Campina Grande presta homenagens ao celebrar Dia da Consciência Negra

 

A vereadora Eva Gouveia (PSD) abriu a sessão especial comemorativa ao Dia Nacional da Consciência Negra que transcorre no dia 20 de novembro, com trabalhos secretariados por Anderson Almeida (MDB). Uma propositura da vereadora Jô Oliveira (PCdoB), que após a formação de mesa e da sua justificativa, presidiu os trabalhos.

A sessão especial homenageia Zumbi dos Palmares e o campinense Arnaldo França Xavier (referente a 20 de novembro e 19 de novembro) aniversário de morte e de nascimento.

Foram convidados para a mesa: Bruno Rafael Gaudêncio (professor e biógrafo do homenageado); Luzinete dos Santos – representando a família do homenageado (Arnaldo França);  Alberto Jorge – Presidente da OAB Secção Campina Grande; professora Alcione Ferreira da Silva – Frente Nacional de Assistentes Sociais de Combate ao Racismo; Iara Maria Sousa (Mãe Iara) – Mãe de Santo – Yalorixá no Terreiro Abaça Mokumbi Tope de Unzanbe (Izo Leão dos Ventos); Irmã Joana – diretora geral da creche Casa Dr. João Moura; Magali dos Santos – Associação das Trabalhadoras Domésticas; e Gabriel Lopes, da União da Juventude Socialista – UJS. Antes das falas tivemos a apresentação cultural do mestre de capoeira Morcego e do senhor José Pedro Fernandes (Baixinho do Pandeiro).

JUSTIFICATIVA DA PROPOSITURA

Jô Oliveira (PCdoB) iniciou a sua fala mencionando as figuras histórias que vieram antes dela, como Arnaldo França Xavier (In Memoriam), o Professor Benjamin, Professor Josemir Camilo e Jairo Oliveira (ex-presidente da OAB), além dos populares que compõe movimentos e lideranças comunitárias, pastorais sociais e as mais variadas expressões.

“O dia de hoje marca a história, reconhecendo a história de quem faz e que essa é a ideia que se quer passar do que significa a Consciência Negra, ressaltando a importância de estarem presentes na Casa Legislativa. Se não tiver a possibilidade de se aquilombar também nesses espaços de poder, a gente vai sempre ficar falando sozinho”, destacou.

A vereadora disse que está marcando um novo tempo, se referindo às crianças que estão tendo essa oportunidade e que amanhã elas também poderão imaginar que aqui é o espaço delas e o microfone possa reverberar as nossas vozes porque durante muito tempo ela não teve e não tem, acrescentou.

Jô Oliveira mencionou que espera ver na CASA representações de outras religiões, para que não tenha apenas uma linguagem religiosa e para que o ‘toque do atabaque’ não seja só colocado de forma pejorativa apenas como uma ‘macumba’.

PALESTRANTES

Breno Rafael Gaudêncio, biógrafo do homenageado (Arnaldo Xavier), fez a leitura de um texto referente à entrega da medalha Arnaldo Xavier, de propositura da vereadora Jô Oliveira e aprovada na Câmara. De acordo com o seu texto, Arnaldo Xavier, nasceu no dia 19 de novembro de 1948, no bairro do José Pinheiro e criado no bairro do Santo Antônio. Ele que era homem negro, foi militante, roteirista, compositor e dedicado as lutas sociais. Também foi organizador das três edições do mais importante evento nos anos 80, que marcaram o debate sobre a autoria negra no país. Além disso, Arnaldo foi poeta, publicou no gênero poético três livros, na prosa foi autor de centenas de ensaios e artigos, produziu o seu ontológico ‘Manual de Sobrevivência do Negro no Brasil’ e atuou na música, no teatro e no cinema, compondo canções no gênero do forró e do rap.

O professor Bruno disse ainda que o homenageado ainda colaborou diretamente em diversas entidades do movimento negro e foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificado, tão importante na luta dos anos 70 e na luta contra a discriminação de 78. Faleceu em São Paulo, em janeiro de 2004 e segundo Sueli Carneiro, ele foi o maior poeta preto do Brasil. Por fim, o biógrafo registrou que Arnaldo foi um pensador comprometido com a classe trabalhadora e com a luta antirracista.

Lusinete dos Santos – Tia e representante da família do homenageado ressaltando que foi um sobrinho querido e que sempre o orientou para que não se sentissem menos por ser negro. Por fim, agradeceu a vereadora pelo destaque.

Irmã Joana – diretora geral da creche Casa Dr. João Moura, agradeceu o convite e também agradeceu por ser Franciscana, sendo assim, fazendo a saudação dizendo ‘Paz e Bem’. Ainda falou sobre a honra de receber o convite e destacou a causa pilar do evento, no que se refere ao respeito, igualdade e dignidade de filhas e filhos do Brasil.

Irmã Joana, também recebeu a moção de aplausos de autoria da vereadora Jô Oliveira e também fotografou junto às crianças da creche Dr. João Moura, com um cartaz feito por elas que dizia que ‘Ninguém é responsável pela cor da pele e esse fato da natureza, não revela o caráter ou a qualidade da pessoa’.

Iara Maria Sousa (Mãe Iara) – Mãe de Santo – Yalorixá no Terreiro Abaça Mokumbi Tope de Unzanbe (Izo Leão dos Ventos); relembrou a sua trajetória quando criança e do que a sua bisavó dizia, para que quando elas crescesse, ”clareasse a família’’. Apenas aos 15 anos ela entendeu o que a bisavó dizia e que a mesma por ter sido tão oprimida por ser mulher negra, casada com homem negro, na inocência, acreditava que as netas precisavam se casar com homem claro, como se assim pudessem escapar do espancamento e da violência. Ela ainda relatou que antes do falecimento da sua bisavó, pode mostrar que construiu uma família negra, e que mesmo preta, poderia vencer e não ser submissa.

Mãe Iara também pontuou que é preciso lutar por liberdade e por garantia dos direitos do povo negro, não apenas no papel, mas consolidados na sociedade.  “A gente ainda luta por essa liberdade. Nós não somos libertos. Ainda não temos os nossos direitos”, frisou. Também destacou a sua felicidade por estar presente na Casa do Povo, uma casa em que o povo não podia ter acesso.

O Dr. Alberto Jorge – presidente da OAB /CG- ressaltou que a OAB é parceira não apenas da Câmara, mas é parceira de todas as causas que tenham a necessidade de discussão na sociedade. Ele fez um convite para que no dia 25 de novembro, todos estejam presentes na Ordem dos Advogados do Brasil de Campina Grande, fazendo essa festa de reconhecimento ao movimento negro da cidade e também fazer a posse solene da direção da Comissão de Combate à Discriminação.

Eva Gouveia (PSD) fez um relato pessoal, mencionando uma situação que vivenciou com o seu irmão, que foi vítima de racismo no apartamento da vereadora em João Pessoa. Em seguida, ela ressaltou a importância de sessões como essas acontecerem.

Profa. Alcione Ferreira da Silva – Frente Nacional de Assistentes Sociais de Combate ao Racismo – destacou a função educativa que a vereadora tem na CMCG e ressaltou o quanto a população negra é uma população educadora do Brasil e que embora sejam reconhecidos como força de trabalho importante para o país, também são uma potência intelectual.

Ela ainda relembrou que as mulheres escravizadas, amas de leite, educaram seus filhos e todos os filhos da Casa Grande, e ainda no contexto da escravização, cumpriram a função do lúdico para o processo do desenvolvimento da infância no Brasil.

Por fim, citou Lélia Gonzalez, que está entre as primeiras mulheres negras a chegarem no espaço da universidade e citou também os professores Benjamin e Patrícia, que construíram na Universidade Estadual da Paraíba, uma universidade com espaço acadêmico de forma positiva.

PARTICIPAÇÃO DO PLENÁRIO

Cristóvão Andrade (professor) – citou o dia emocionante que vivenciou, registrando que o novembro da consciência negra em Campina Grande tem uma história, uma memória e seus legados. Saudou ainda a vereadora Jô Oliveira pela sessão e aos vereadores presentes e frisou que se precisa sempre ‘buscar a esperança de que muita coisa temos ainda a fazer’. Ele também citou a Casa Legislativa, que tem quase 40 anos de resistência de participação dos movimentos presentes e de como é importante que o movimento aconteça com mais força.

Sófia Isbelo de Melo e Sousa – recitou um SLAM, que faz referências a força dos escravizados e do povo negro.

Luciano Lima – fez duas homenagens, primeiramente à Paulo Roberto Galdino do Nascimento, conhecido como ‘Beto Fuscão’. No dia 14 de julho, ele foi sequestrado e vítima do esquadrão da morte.  Lembrou também que passava de manhã nas Malvinas e viu uma senhora negra, sem nada para comer, que o deixou com o coração partido.

Valdez Berlamino – destacou que homens e mulheres negras e nordestinas, são classes sofridas com essa questão da violência que cada vez mais a gente precisa nos unir’, concluiu.

Nadilson Nunes – vereador de Pernambuco – destacou a honra de estar participando deste momento, fazendo referência ao importante papel da vereadora na Casa Legislativa. Disse que apesar de não ter a pele negra, mas que no seu coração pulsa a necessidade de justiça social. Ele ainda elencou nomes de referências de mulheres e homens pretos, como Milton Santos, Lima Barreto, Milton Nascimento e Chico César, Benedita da Silva, Carolina Maria de Jesus, Marina Silva e em Campina Grande, a companheira Jô Oliveira.

Patrícia Aragão – disse que nunca esteve na Câmara Municipal e que nesta primeira vez teve a oportunidade de vivenciar este momento, agradecendo a todos que estavam presentes e ressaltando o papel educativo da propositura da vereadora Jô Oliveira.

Marinalva Silva – ressaltou que todas as falas a emocionaram e disse que ‘’ é um sonho e que esse sonho não acabou, porque a nossa luta é uma luta diária, que muitas vezes parece não ter fim’’. Ela ainda falou sobre quando se pensa estar evoluindo, ocupando espaços como a vereadora Jô Oliveira, ainda tem que enfrentar determinadas situações. Por fim, pediu por liberdade para negros, mulheres e todas as minorias.

ENTREGA DE MOÇÃO DE APLAUSOS PARA:

Alcione Ferreira da Silva, filha de agricultores, artesã, historiadora e assistente social. Integrante do NEABI/UEPB, do Grupo de Estudos Abayomi/UEPB e da Frente Nacional de Assistentes Sociais no Combate ao Racismo. Professora de Serviço Social/UEPB;

Ariosvalber de Sousa Oliveira, Militante do Movimento Negro de Campina Grande, doutorando em Educação Universidade Federal da Paraíba (UFPB);

Bruno Robson Ribeiro dos Santos, escritor, tradutor e roteirista; autor, entre outros, de “Porco de Raça”, “Como usar um pesadelo”, “Glitter” e “Bartolomeu”;

Irmã Joana Santos, ocupa o cargo de Superiora da Fraternidade e diretora geral da creche Casa Dr. João Moura, sendo conhecida por sua virtude acolhedora e desenvolvimento de projetos socioeducativos;

Joseilton Brito de Freitas, Licenciado em Ciências Sociais, Pós-graduado em Sociologia e Educação, Pós-graduado em Relações Étnico-raciais, Professor de Filosofia da Rede Municipal de Ensino, Coordenador Geral do Grupo de Apoio à Vida – GAV;

José Benjamin Pereira Filho, professor aposentado da Universidade Estadual da Paraíba com trajetória marcada pela militância sindical, político-partidária, filiado ao PCdoB e um dos responsáveis pela criação do NEAB-Í – Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e dos Povos Indígenas da UEPB;

José Cristovam de Andrade, pró-reitor de Cultura da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Coordenação da SAB do 40, Membro do Conselho Estadual de Educação da Paraíba, Professor e Pesquisador das questões sociais e raciais na Paraíba;

José Pedro Fernandes (Baixinho do Pandeiro) começou a tocar pandeiro aos seus 13 anos, confeccionou assim seu primeiro pandeiro feito com uma lata de doce, tampas de garrafas de alumínio. Hoje, é conhecido na Paraíba por sua habilidade de tocar pandeiro e tornou-se figura popular na cidade e promove aulas e festas cantando e tocando Coco, Samba, Frevo, Embolada, dentre outros;

Maria da Conceição Silva (Ceiça Gomes), formada em Jornalismo na URNE. Trabalhou nas TV Borborema, TV Paraíba, como apresentadora, redatora e repórter. Foi a primeira mulher e a primeira negra a apresentar telejornal na cidade de Campina Grande;

Maria das Graça Santos, educadora social, negra, feminista. Atuou na ONG Menina Feliz, como também desenvolveu atividades na Rede de Educação Cidadã – Recid.  Atualmente trabalha no Centro de Organização Popular – Ceop;

Manuel Donato de Almeida, militante histórico no Movimento Negro de Campina Grande, professor Universitário e Coordenador da UNEGRO – União dos Negros e Negras do Brasil;

Mãe Iara Maria Souza, Mãe de Santo, iniciada aos 13 anos de idade para Ogum. Atua a 20 anos no terreiro Abaçamokunbi tope de unzanbe (izo leão dos ventos) como Ialorixá;

Mãe Suênia Fragoso, Ialorixá, atua há 29 anos no terreiro. Seu Terreiro é o Senhor do Bonfim OyaAgandê;

Margarete Maria de Melo, formada em Pedagogia na Universidade Regional do Nordeste (1988), Mestra pela UEPB e Doutora na UERJ. Professora da UEPB, compõe o Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena, (NEABI);

Maria do Socorro Lima Cabral, líder comunitária que atua na comunidade do Tambor, artesã e cozinheira de profissão, presidiu a Associação do bairro do Tambor e fundou a Biblioteca Comunitária do Tambor (Livros do Tambor), com seu filho Williams Lima Cabral;

Marinalva Silva Sousa, pedagoga, especialista em Gestão Pública pela UEPB e psicopedagogia pela FIP. Militante dos Movimentos Sociais (Mov. Comunitários especialmente Clubes de Mães e Movimento Negro. E membro do Coletivo Estadual de Mulheres do PT;

Moisés Alves da Silva, Gerente da Igualdade Racial da Secretaria da Educação da PMCG, e liderança do Movimento Negro de Campina Grande;

Patrícia Cristina Aragão; doutora em educação, professora do departamento de História da UEPB, Professora do Mestrado de Serviço Social e do Mestrado de Formação de Professores da UEPB, membro no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro e Indigena– NEABI e Coordenadora do projeto de extensão educa (ação) das Juventudes;

Benedito Antônio Luciano; (Representado por Ivã Barbosa Luciano), um dos idealizadores e fundadores do Movimento Negro de Campina Grande, no ano de 1986 e Professor Aposentado do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal da Paraíba;

Josemir Camilo de Melo, Historiador pela Universidade Católica de Pernambuco e possui mestrado e doutorado pela UFPE. É estudioso da História Regional do Brasil e é autor de ‘Mobilidade Social no Nordeste (1850-1900)’ e ‘Uma Família de Engenheiros Ingleses no Brasil: de Mornay Brothers’.  Foi um dos idealizadores e fundadores do Movimento Negro de Campina Grande e teve participação decisiva no NEABÍ- UEPB – Campus I – fundado em 2006;

Luciano Mendonça de Lima, historiador, graduado pela UFPB, Mestre pela Unicamp e Doutor pela UFPE. Estuda e pesquisa temas ligados à história da escravidão, das relações raciais, da África, dos movimentos populares, da ditadura militar e do marxismo. Militante do movimento docente, base da Adufcg/Andes-SN;

Prof.ª. Ofélia Barros, Professora de História da UEPB, Coordenadora do NEABI – núcleo de estudos afro-brasileiro e indígena e pesquisadora das religiões afro-indígenas em Campina Grande;

Stellio Mendes, educador e ativista cultural. Há 30 anos é gestor de escolas privadas e hoje está à frente da SM Consultoria em Educação. É um dos idealizadores da FLIC – Feira Literária de Campina Grande;

Sofia Isbelo de Melo e Sousa, militante do Levante Popular da Juventude e do Movimento Brasil Popular. Poeta marginal, organizadora do Slam da Balbúrdia, escritora e candomblecista;

ThaysKeylla de Albuquerque, poeta e escritora, negra e feminista. Professora de Literaturas Hispânicas na UEPB. Em abril de 2022, publicou o livro “o corpo e caleidoscópio”, pela Castanha Mecânica. Integra o Ariel Coletivo Literário;

Valdez Belarmino da Silva; Liderança Católica da Pastoral Operária e na luta dos trabalhadores/as desde os anos de 1980. Tendo atuado nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e na Pastoral da juventude do Meio Popular – PJMP;

Waleska Ramos Alexandre; Perfil: assistente social de formação e carnavalesca, filha de Zé Neto, um dos expoentes do tradicional carnaval de rua de Campina Grande, e militante do movimento negro;

Jair Silva Ferreira; Professor de história e militante do Movimento Negro.

DIVICOM/CMCG

Foto: Josenildo Costa



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